Placas de trânsito e uma reflexão sobre acessibilidade

Amanda Carneiro
3 min readJun 1, 2023

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Imagem de uma placa de trânsito com a inscrição em italiano: “passo carrabile disp. dirig. n. 1301 del 1 - 8 - 1997”. E um símbolo de trânsito com detalhes em azul e vermelho

Compreender e estudar sobre acessibilidade pode certamente trazer percepções melhores sobre desafios que pessoas com deficiências enfrentam diariamente. Ao se aprofundar no assunto, é possível desenvolver uma consciência mais sensível e uma compreensão mais profunda das barreiras que as pessoas encontram em diversos aspectos da vida.

Quando você começa a estudar sobre acessibilidade, dá para ter uma noção de que existem limitações que podem afetar a forma como as pessoas interagem com o mundo ao seu redor. Pode ser relacionado à visão, audição, mobilidade, cognição ou outras condições. Cada uma dessas condições apresenta desafios únicos e requer abordagens específicas para tornar os ambientes, produtos e serviços mais inclusivos. Uma vez que tomada a consciência sobre isso, se torna de certa forma inevitável questionar e observar o mundo a volta a respeito de acessibilidade de uma forma geral.

Falei tudo isso pra dizer o que?

Quando a gente toma consciência de coisas que muitas vezes não fazem parte da nossa realidade, a gente pode também passa a ver a necessidade do outro com mais carinho e atenção. A partir do momento em que comecei a estudar e pesquisar mais sobre acessibilidade WEB, se tornou inevitável avaliar o mundo a minha volta sob novas perspectivas, pensando como algumas coisas poderiam e deveriam ser mais acessíveis.

Em uma das pesquisas que fiz, descobri o dautonismo do tipo deuteranopia, que é o dautonismo que afeta a percepção das cores vermelho e azul. E agora, recentemente enquanto viajava de férias, vi placas como a que está na foto no início do artigo, que é uma placa que conta com um símbolo vermelho e azul. Quando vi essas placas fiquei me questionando se o dautonismo não tinha sido levado em consideração na hora de criar esse padrão de cores.

Isso ficou na minha cabeça…

O que descobri depois é que deuteranopia é menos comum do que o daltonismo vermelho-verde, chamado de protanopia. Isso significa que o design de cores em placas de trânsito e outros elementos visuais geralmente se concentra mais nas dificuldades de distinção entre vermelho e verde. As placas de trânsito normalmente dependem de outros elementos além das cores para transmitir informações importantes, explicando as placas vermelho e azul, mesmo com a existência de um tipo de daltonismo que afeta a percepção dessas cores. Outros elementos podem auxiliar na identificação da mensagem como incluir o uso de formas, símbolos, texto e até mesmo a posição relativa de elementos na placa. Essas abordagens são adotadas para garantir que as informações sejam compreendidas independentemente da dificuldade em distinguir certas cores.

Entretanto, ainda segui me questionando se os símbolos usados, sozinhos, conseguem transmitir o real significado das placas... O que me levou a reflexão de que seja possível que algumas placas de trânsito na Itália ou em qualquer outro lugar possam apresentar desafios para pessoas daltônicas em determinadas situações. Por exemplo, se uma placa ou um sinal de trânsito depende muito da distinção entre cores para transmitir informações críticas, isso pode representar uma dificuldade para algumas pessoas.

O que o estudo sobre acessibilidade vem me trazendo é um entendimento de que se alguma coisa não é acessível para algumas pessoas, ela não está cumprindo seu papel como deveria. As coisas podem e devem ser modificadas para acomodar as necessidades não só do maior número de pessoas, mas também da maior diversidade de pessoas possível.

Quando algo não é acessível para algumas pessoas, isso significa que elas estão sendo excluídas e enfrentando barreiras que limitam sua participação plena na sociedade. A acessibilidade não é apenas uma questão de conveniência, mas também de justiça social.

Resolvi escrever sobre isso para trazer uma reflexão… Não é só porque uma coisa é usada em um país ou continente inteiro, que ela está 100% acessível. E essa é uma observação a respeito do mundo físico. O mundo virtual tem a vantagem de poder ser alterado com mais facilidade, por exemplo, se sua plataforma ou site tem botões que não atendem acessibilidade, com algumas modificações de código, você consegue torná-los acessíveis, o que não acontece com placas de trânsito espalhadas fisicamente por um país inteiro…

Então nós, como criadores de tecnologia, deselvolvedores, designers, somos todos responsáveis por observar e tentar melhorar a experiência dos usuários que possam precisar de acessibilidade na sua rotina usando tecnologia.

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Amanda Carneiro

Ela/Dela Programadora, apaixonada por tecnologia e pelo universo tech. Amo escrever, amo a arte e sonho em viver viajando.