Amanda Carneiro
4 min readDec 21, 2018

Já ouvi muito falar sobre a comparação entre o “palco” das outras pessoas e o nosso “backstage”. No palco é onde tudo é lindo, os figurinos parecem impecáveis, as falas estão decoradas e são faladas lindamente. No backstage é onde rasga a saia da bailarina, é onde a maquiagem cai no chão e não dá tempo de ir comprar outra, é onde o ator principal está brigado com metade do elenco. É injusto comparar o palco dos outros com nosso backstage, sempre vai parecer péssimo. Sempre vai ser o pior cenário possível.

A vida de cada um tem um percurso que já foi seguido e caminhos novos a serem trilhados e cada um de nós tem particularidades únicas, habilidades, conhecimentos e vontades únicas. A partir do momento em que você se compara com uma outra pessoa, primeiro você está assumindo que sabe tudo a respeito dessa pessoa. Segundo, você está assumindo que suas conquistas pessoais, seus objetivos, suas lutas e seus sonhos foram e são exatamente os mesmos que os dessa pessoa. Por que falo que você está assumindo? Porque não são fatos. Sua mente faz com que pareça tudo muito fácil de julgar e analisar, mas na verdade, é uma complexidade imensa. Você é uma complexidade imensa e a outra pessoa é uma complexidade imensa completamente diferente da sua.

Então, sabe aquele momento em que você olha as fotos de um conhecido e pensa, “poxa, ele está em um cruzeiro agora e eu estou aqui, trabalhando nesse calor infernal. A vida é tão injusta…” Será mesmo? Será que a vida é injusta mesmo? Ou sera que as vidas só são diferentes?

Não vou entrar no quesito de meritocracia aqui porque não é esse o meu ponto. Mas vou entrar com certeza no quesito comparação. O que é a comparação nesse contexto? É você pegar a sua vida, resumir o suficiente para separar em pontos bons e ruins, fazer o mesmo com a vida de outra pessoa e colocar em uma balança para ver o que pesa mais. É isso mesmo que você quer? Reduzir sua vida a meia dúzia de comparações sem nexo? Tenho certeza que não.

Então por que acho que fazemos isso? Bom, quando estamos em momentos difíceis, tristes ou ruins da vida, é muito complicado olhara para o outro e ver que ele está em um ponto em que a gente gostaria de estar e não sentir alguma coisa em relação a isso. É natural do ser humano olhar para o vizinho e ver a grama mais verde. Somos seres humanos e somos falhos. Somos seres humanos e somos únicos. A questão é que, mesmo em cada uma de nossas particularidades, sabemos que existem outras pessoas com essas particularidades em comum.

Então por exemplo, você joga futebol no seu bairro e todos ao seu redor falam que você joga muito bem, aí você vai lá na escolinha de futebol e começa a treinar com outros jogadores, que também jogam muito bem nos seus bairros. E aí, o tempo vai passando, seu colega do futebol é chamado para jogar em um time maior e você não. Qual é a reação natural? Se comparar. Se questionar do que fez errado, do que faltou, do que deveria ter feito e não fez. E aí, isso serve de que? Serve para que você mesmo se coloque em uma posição desfavorável, para poder “sofrer em paz”.

A questão é que enquanto nos comparamos com outras pessoas sem respeitar nossos próprios limites e capacidades, a vida dos outros sempre vai parecer melhor que a nossa. Enquanto você estiver sofrendo porque os outros estão sendo chamados pra jogar futebol em times grandes em vez de prestar atenção onde você é bom, você realmente nunca vai ser bom. Vai ver que seu esporte nem é futebol, vai ver que seu talento é jogar basquete, mas você está tão preocupado com o futebol dos outros que você não dá atenção para o seu basquete.

O que quero dizer com toda essa metáfora?

Vale muito mais a pena prestar atenção nos próprios pontos fortes, vale a pena escutar a si mesmo e perceber o que faz bem ou não faz bem como indivíduo, vale a pena escolher uma coisa que é diferente do que a maioria ao seu redor está escolhendo se isso for o que você quer com mais intensidade. E sabe o que vale mais a pena do que tudo isso? Viver a própria vida sem sofrer com a vida dos outros.

Nossos neurônios são capazes de criar infinitas conexões para que possamos aprender inúmeras coisas. E aí ficamos por aí, desperdiçando o trabalho deles em sofrimento porque a vida do outro é “melhor” que a nossa. A vida do outro é como a vida do outro tem que ser. É o caminho dele, são as escolhas dele e consequências dele. Cada um tem o próprio caminho para seguir e quanto mais cedo nos damos conta disso, mais agradável a vida se torna.

Amanda Carneiro

Engenheira de software, apaixonada por tecnologia. Amo arte, amo conhecer lugares novos e viver viajando é o que me motiva todos os dias.