O campo de exatas é muito definitivo, crítico e calculista. As escolhas só são tomadas como certas ou como verdadeiras depois de muitas análises, cálculos, verificações e principalmente, muito raciocínio lógico. Até aqui não temos nada de novo. Programadores, desenvolvedores, analistas, engenheiros ou qualquer outra definição que queira usar, são normalmente muito centrados, focados e extremamente racionais. E é aí que entra o questionamento. Será que sermos desta forma é o melhor para o momento?
Até 10 ou 15 anos atrás isso era perfeito, lindo, quase poético. Era como se fosse uma caixa, com várias engrenagens lógicas e racionais que recebiam uma solicitação, e devolviam uma solução, um software ou um hardware com exatamente o que tinha sido solicitado. Ótimo não? Não mais. Os usuários, as organizações e até mesmo os próprios programadores passaram a notar que a lógica por si só, a solução mais racional e matematicamente correta nem sempre é a melhor. Estou querendo questionar a objetividade e a capacidade de solucionar o problema que as resoluções lógicas nos trazem? Obviamente que não. Estou questionando a adaptabilidade destas soluções com a vida do ser humano comum? Claramente que sim.
Quando nos tornamos desenvolvedores, programadores ou engenheiros não estamos apenas aprendendo a executar tarefas, aprendemos também uma nova forma de ver o mundo e de viver nele. Uma vez aprendido, se torna natural enxergar tudo de uma forma mais racional e lógica, mesmo que você não tenha esta intenção, é uma reação involuntária causada pelos novos caminhos criados pelos nossos neurônios no cérebro. Por que estou falando disso? Porque a maioria das pessoas não tem esse tipo de “treinamento”, as pessoas que não escolhem se dedicar às áreas exatas normalmente não criam as relações extremamente racionais e lógicas que nós criamos, elas criam outros tipos de conexões neurais, que levam a outras soluções, na maioria das vezes, soluções mais dinâmicas, mais fluidas e muito menos calculistas.
Ok, sabendo disso tudo, temos uma coisa importante pra levar em consideração. Como é que nós, programadores, desenvolvedores, engenheiros, as pessoas das soluções racionais, calculistas e lógicas vamos criar soluções de hardware e software que sejam mais intuitivas e mais amigáveis, não para nós que conhecemos a criança que estamos criando, mas para qualquer pessoa que vá utilizar essa solução, independente da sua área de atuação? Como vamos entender uma forma de pensar e de ver o mundo que não é a nossa? Parece uma pergunta com uma resposta muito óbvia e na verdade é… Com integração, comunicação e compreensão.
Nós como criadores precisamos desenvolver soluções que além de resolver os problemas também sejam agradáveis, bonitas, intuitivas e aí você pode estar se perguntando, qual a necessidade disso? A mesma necessidade que tem uma Ferrari de ter determinadas características a mais em comparação com outros carros. Se você puder ter uma Ferrari zero ainda vai querer aquele seu carro que enguiça na subida ou que não liga quando está frio? Acho que não. Nós todos como usuários sempre queremos o que for de melhor qualidade, com uma resposta mais rápida, com uma aparência mais agradável e confortável. Foge do universo lógico, vai muito além dele, é natural do ser humano adaptar-se e acostumar-se ao que é bonito, confortável e fácil de aprender e fazer.
Então, ser a engrenagem de dentro da caixinha que devolve só uma resposta para cada pergunta feita já não serve mais. Nós como construtores de ferramentas do futuro precisamos da visão de outro ângulo que não seja o nosso próprio. Fazendo uma analogia com o computador. Quando surgiu, ele era uma calculadora, gigante, massiva e com funções únicas e específicas. Agora olha em volta, olha pra sua mão, olha o painel do seu carro… Computador, computador, computador… A evolução é constante. E nós como construtores da evolução também precisamos evoluir. Não dá mais para ter uma mente fechada dentro de uma caixinha lógica e viver ali dentro como se o mundo todo também fosse feito da mesma lógica que está dentro dessa sua caixinha. Pensar fora da caixa nunca foi tão importante e necessário quanto agora.