Acessibilidade web por quê?

Amanda Carneiro
4 min readMar 30, 2023

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Infelizmente no universo de desenvolvimento web não é comum que se fale sobre acessibilidade, esse tópico geralmente entra nos cursos de faculdade como um tópico bem superficial, isso quando entra… Então quero trazer alguns pontos sobre isso para que mais pessoas tenham acesso a esse conhecimento. Acho que é importante começar pelo começo, então quero falar um pouco sobre a motivação, do ponto de vista de uma pessoa aliada, por trás da acessibilidade web.

A acessibilidade é um conceito fundamental para garantir que todas as pessoas, independentemente de suas habilidades físicas, sensoriais ou cognitivas, possam acessar informações e serviços. É importante destacar que a acessibilidade não se aplica apenas a pessoas com deficiências, mas a todas as pessoas que podem enfrentar barreiras no acesso à informação, como idosos, pessoas com baixa alfabetização, entre outras.

De acordo com estatísticas, cerca de 90% dos sites e aplicativos não são acessíveis, o que significa que muitas pessoas enfrentam obstáculos significativos para acessar informações online. Isso dificulta o uso das tecnologias assistivas que podem ajudar essas pessoas na navegação. Já temos tecnologias assistivas como leitores de tela para pessoas com deficiência visual, software de fala para texto para pessoas com deficiência motora ou cognitiva, legendas para pessoas com deficiência auditiva dentre várias outras. Mas a única forma de garantir que essas tecnologias serão capazes de exercer suas funções é tornando os sites e aplicativos acessíveis. Ou seja, de nada adianta ter tecnologias assistivas se o conteúdo que for ser acessado, não for compatível com essas tecnologias.

A inclusão é um princípio importante em uma sociedade democrática e igualitária. Quando se fala em inclusão, estamos falando em garantir que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades e possam participar plenamente da sociedade. A acessibilidade é um passo importante para garantir essa inclusão, e quando falamod em acessibilidade web, é responsabilidade de todas as pessoas desenvolvedoras de sites e aplicativos garantir que suas plataformas sejam acessíveis a todos.

Então se você é uma pessoa desenvolvedora que está começando a descobrir acessibilidade, a dica é começar com 3 passos simples.

O primeiro deles é reconhecer que as barreiras de inclusão existem e afetam muitas pessoas na sociedade. Muitas vezes, tendemos a projetar soluções baseadas em nossas próprias necessidades, sem considerar as perspectivas e necessidades de outros grupos de pessoas. Por isso, é importante fazer um esforço intencional para entender as perspectivas e necessidades de outras pessoas, especialmente aquelas que enfrentam barreiras físicas ou cognitivas.

O segundo passo é adotar uma abordagem de “Design com e não para”. Isso significa incluir intencionalmente pessoas que enfrentam barreiras para ajudar a projetar soluções que atendam a mais pessoas de forma útil. Ao projetar com e não apenas para, podemos encontrar oportunidades para melhorar e facilitar a vida de muitas pessoas.

Outro ponto importante é o “Design para um, escalável para muitos”. Esse é um conceito fundamental para a acessibilidade e a inclusão porque nos permite desenvolver soluções específicas para grupos de usuários com necessidades específicas, mas que podem ser escaladas para atender a um público mais amplo e sustentável a longo prazo.

Um exemplo interessante de “Design com e não para” é o desenvolvimentoe criação do e-mail. Ele foi co-criado por Vint Cerf, também conhecido como o pai da internet, ele também ajudou a desenvolver o protocolo TCP/IP e o objetivo desse primeiro protótipo do email era de se comunicar com sua esposa que tinha deficiência auditiva. E hoje em dia é uma das principais formas de comunicação no ambiente profissional em todo o mundo. Um exemplo de “Design para um, escalável para muitos ”é o uso de legendas em filmes e séries. Essa foi uma solução inicialmente criada para atender a necessidade específica de um grupo e que hoje em dia é utilizada por qualquer pessoa que queira assistir a conteúdos em diferentes idiomas por exemplo.

Existem diversos outros exemplos de “Design com e não para” e “Design para um, escalável para muitos” que se tornaram amplamente utilizados e muitas vezes apenas fazemos o uso dessas ferramentas no nosso dia-a-dia sem saber de onde veio a motivação para a criação dessas soluções. Um desses exemplos é o teclado virtual, que foi desenvolvido inicialmente para pessoas com deficiência motora que não conseguem utilizar um teclado físico, mas que hoje em dia é uma opção disponível em muitos dispositivos e sistemas operacionais para facilitar a digitação em telas sensíveis ao toque. Outro exemplo é o reconhecimento de voz, que começou como uma tecnologia assistiva para pessoas com deficiência visual ou motora que não conseguem usar um teclado ou um mouse, mas que atualmente é uma opção disponível em muitos dispositivos para melhorar a acessibilidade e a usabilidade em geral. Esses exemplos mostram como soluções criadas para atender necessidades específicas podem ser escaláveis e beneficiar muitas outras pessoas. Então, nunca subestime o poder do desenvolvimento pensando em acessibilidade!

Existe até um termo específico para definir este tipo de solução e ele é chamado de “curb cut effect”(termo em inglês equivalente a algo como “efeito da rampa de acesso”), esse é um conceito que se refere às soluções de acessibilidade projetadas originalmente para ajudar pessoas com deficiência, mas que acabam beneficiando uma ampla gama de pessoas. O termo “curb cut effect ” foi criado usando como referência as rampas de acesso que são construídas nas calçadas para ajudar pessoas com deficiência física a atravessar a rua. Essas rampas também beneficiam outras pessoas, como pessoas que usam carrinhos de bebê, carrinhos de compras e bicicletas, pois tornam mais fácil a transição da calçada para a rua.

O “curb cut effect” tem sido usado como uma forma de argumentar a favor de investimentos em acessibilidade e inclusão, pois esses investimentos podem trazer benefícios para um público mais amplo do que o projetado inicialmente.

O que se pode concluir é que desenvolver soluções inclusivas não beneficia apenas pessoas com deficiência, mas também pode melhorar a experiência de várias pessoas e se tornar uma conveniência para todos.

Como disse Katherine Messall em seu livro “Mother of Invention”, pessoas que vivem em um mundo que não foi feito para elas têm mais facilidade em perceber como as coisas podem ser melhoradas, não apenas para elas mesmas, mas para todos ao seu redor. Portanto, ao considerar as necessidades de pessoas diversas, podemos criar soluções melhores e mais eficazes para todos.

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Amanda Carneiro

Ela/Dela Programadora, apaixonada por tecnologia e pelo universo tech. Amo escrever, amo a arte e sonho em viver viajando.